sábado, 26 de fevereiro de 2022

Sábado de Carnaval

 Hoje é sábado de Carnaval, mas não há Carnaval.

É o segundo ano que esperamos que algo invisível não nos mate. 

As esquinas já estão cheias e as praias têm cabeças e pés demasiado, mas ainda é tempo de temer.

A Rússia invadiu a Ucrânia e nenhum país quer saber dos civis que se vão.

Biden, Boris, Bolsonaro. Parece que para ser presidente hoje em dia, não basta ser homem cis e branco, mas ter na graça a inicial B, de Bosta.

Quarei meus lençóis e fiz uma mimosa com Ceréser. Tentei ler Guimarães por mais de 20 páginas, mas só é efetivo quando fisga esperança na vida. Não foi.

Dele, restou ler pássaros, e aqui escuto os Guaturamos. Não sei, na verdade, se são Guaturamos, mas nada muito mais importa quando você engasga com goles de mimosa e resiste em respirar. Poderiam ser pombos, eu veria Guaturamos.

Eu gostaria de cigarros. Ah, como eu gostaria. Mas prometi a mim mesma que pararia de fumar. A mesma que prometeu que não comeria nada que fosse de origem animal e que faria mais atividades físicas. Se consistência fosse uma moeda, eu não teria um puto no bolso.


Desde niña me estoy acostumbrada con la solitud. Nada me parece más familiar que yo misma, con mis lágrimas. A mí me gusta terriblemente ver Almodóvar, porque veo todo el drama, todos los colores, todos los gritos y amores en una mirada. Me gusta el drama.

Todos os meus prazeres transformei em trabalho (menos o álcool e o sexo, esse último não seria tão mal). Não sei mais o que gosto de fazer, porque tudo me remete a obrigações. Quero ganhar dinheiro e fazer de tudo um jeito de chegar em algum lugar. Não é assim.

E quando começo algo que não sei e sei que não sei, logo desisto. Música, pinturas, jogos. Muito esforço para não ter dinheiro. Me esforço só pra ter dinheiro.

Faz tempo que eu não faço a mínima ideia de quem sou, mas ultimamente tenho me incomodado muito mais com essa dúvida. Antes, era muito jovem para achar que valia a pena me preocupar com isso. Agora, só gostaria de ter certeza do que vou fazer amanhã.


Amanhã, domingo de carnaval.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

nomear os venenos

é a tarefa do ser

de boa memória.

e de boa memória é aquele

que nunca esqueceu

o sabor do que não era remédio


só se aprende morrendo.


não é só se deixar sentir

mas enviar o sentir

às palavras 

que são poder

porque fizeram-se verbo

e ainda não havia 

reticência.


o corpo que não fala

adoece 

na reticência

de seu sangue


me sinto burra.

qual dia da nossa vida

define a nossa morte?

porque a morte se dá mesmo

no respiro ausente

e não na ausência

de respiro


o amor pode chegar

e haverá mais braços 

mas ainda é a sua mão 

que aceita ou nega


a solidão é a única constante

não há corpo 

acompanhado

de outro corpo

se nem as psiques

as acompanham


às vezes em um casal

há 4 corpos

16 vividos

e 2 mortos

e a doação que se nega

é a libertação dos outros 8.


saber que a falta é 

reconhece que ser vazio

se faz maior e preenchido

por uma só letra.


o que foi

é mais irregular

do que ir

ou o que é

é mais presente

do que ser?




terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Notas mentais

 - Não é responsabilidade de uma pessoa específica - ou de um conjunto de pessoas - suprir seus sentimentos de insatisfação ou insegurança;

- Ter uma boa comunicação é fundamental, então faça possível que, a todo momento, a sua comunicação seja transparente, bem intencionada e objetiva para o que você quiser comunicar. Não esconda e não tenha medo. 

- Preze pela sua liberdade, conforto e carinho, porque é isso que você poderá oferecer.


domingo, 25 de outubro de 2020

Mudanças

 São quatro os meses que passam sem letras por aqui. Muita coisa aconteceu - muita mesmo - e isso é engraçado, porque sempre tão inconformada do tédio da vida e assim mesmo tão exausta das mudanças, continuo mudando. É claro, a vida só se vale na contradição.

Em um terço de ano:

- Saí do meu emprego, iniciei uma carreira mais firme como astróloga e é disso que vivo, além da bolsa de estágio como tradutora de extensão na universidade;
- Catalina saiu de casa, para São Paulo e depois Portugal, e Bruno mudou-se para cá;
- Tive uma briga catastróficas dessas com o Wallace, que espero ser a última;
- Parei a terapia e voltei
- Comprei uma rede de descanso e uma cadeira de escritório de 500 reais
- Fiz minha primeira tatuagem;
- O isolamento social foi flexibilizado em um nível que é aceitável ir à praia ou viajar de avião;
- Conheci um rapaz, pelo qual estou encantada, mas está num relacionamento aberto
- Talvez vá para São Paulo, depois de 10 meses.

Com tanta coisa acontecendo, obviamente, não estaria aqui escrevendo. A escrita é um lugar para mim de contemplação e organização das ideias e excessos de eventos impossibilitam minha organização mental. Quando caio no ostracismo e na procrastinação, tento por meio da extensão do meu cérebro teclar ordinárias linhas de algodão. Vejamos.

Li os textos passados e me dei conta do quanto me curei. Não estou exausta e isso me faz falta. Estou insegura, mas não tanto. Sinto-me feliz e encaminhada, para um lugar melhor do que eu estava. Tudo acabou que dando certo e isso é uma alegria sem tamanho, da qual eu deveria todos os dias agradecer. 

Sinto falta do ambiente universitário e de sentir tesão. Sinto que o mundo é um esvaziar-encher canecas amornando o chá-ntagear de escolhas tomadas antes da ceia, em jejum de risco. Hoje tenho obrigações que não são urgentes, leituras que podem ser feitas a qualquer hora e a autonomia de ser dona de mim e de meu espaço e quereres. Posso ir e vir, já não há uma prisão conclamada de fora, mas de dentro. O problema sempre está no dentro, senhoras e senhores, pois a roxura brilhosa da casca de berinjela nem sempre dá sinal de que há bicho tromba em seu miolo. Assim é a gente.

Pensava que a escrita fosse um processo cartático para mim, mas nem sempre. Sinto falta da troca, dos olhares, da fala de todas as gentes. Todas as pessoas são um mundo e eu só queria pegar passagem e dar a volta nele. Sinto falta de sentir muito e isso é um problema.

Tenho vício do excesso, seja lá se isso é uma redundância. Queria tomar de canudinho o amor e o cérebro das pessoas. Sinto falta. Tenho que administrar essa dualidade de sempre colocar as coisas numa questão ou prática e ordinária ou extremamente importantes, urgentes e apaixonantes. 

Não quero mais escrever, talvez volte.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Diário da autoestima - Dia 1 - Parte 2

Gravando...


Puts, realmente tá difícil. Demorei 30 minutos para voltar para essa tela. Mas, vamos lá.

Objetivo: construir uma lista dos valores que você acredita serem importantes para você no momento, para entender melhor a construção da sua história e autoestima e, posteriormente, utilizá-los como base.

1- Eu realmente não quero encarar essa questão. Iniciei a postagem ontem às 20h e hoje são 13h20 e lembrei que havia largado ela aqui.

Mais tarde eu volto.

domingo, 21 de junho de 2020

Diário da autoestima - Dia 1

Dia do Sol, primeiro dia da semana, primeiro dia de inverno, Solstício do Câncer, Nova Vida, Lua Nova, novo tudo.

Ciclos.

Iniciei do jeito mais bonito possível. Estou leve. Feliz. Despreocupada. Desapegada.

Movam-se folhas deste mundo, quero respirar novo ar e vida nova. Abro-me para tudo que for necessário ir e vir. Estou plena.

Gostaria de abraçar todas as gentes, ouvi-las atenciosamente, agradecê-las, meditar e dormir. É isso o que gostaria: presenciar.

Todo dia é uma grande luta que ressignifico com carinho como conquista. Estar viva, amar e ser amada, saber que o Sol ainda brilha, que os pássaros ainda cantam, que a música ainda afaga. Reentender os prazeres, rememorar falhas e segurá-las com atenção, para não repetir.

"Tudo isso é sobre não cometer os mesmos erros quando tivermos 50 anos, Stefi"

Saudade.

Eu sinto muito medo. Vivia com medo. Acho que hoje entendo o que é coragem: aceitar a possibilidade da dor de peito aberto. Não necessariamente não ter receio de errar, mas não se imobilizar pelo medo.

Sempre fugi do medo, porque o medo paralisa. Mas ando batendo no pé, caminhando para sair do medo e, quando obrigada a enfrentá-lo, aceitando a dor, entendendo, contornando.  Quando penso para quem falo essas bonitezas, lembro dos meus amigos de ouvido atento, olhar doce e calmo. Gil, Lady, Leo... Doçuras refrescantes, de coração grande e ego bom.

Tenho que lembrar do que quero e de mim quando estou condicionada a situações e diálogos. Encontrar o equilíbrio entre entender o outro e ser o outro. Escuta atenta, sempre; opinião formada, nem tanto. Absorver o outro não é sê-lo, é aceitá-lo, compreendê-lo e adaptá-lo ao seu entendimento. É acolhê-lo, e não apagar-se.

Complicado.

O início desse texto era sobre entender o meu valor. Terminei falando de tudo, menos disso. Vamos para o próximo.