Hoje é sábado de Carnaval, mas não há Carnaval.
É o segundo ano que esperamos que algo invisível não nos mate.
As esquinas já estão cheias e as praias têm cabeças e pés demasiado, mas ainda é tempo de temer.
A Rússia invadiu a Ucrânia e nenhum país quer saber dos civis que se vão.
Biden, Boris, Bolsonaro. Parece que para ser presidente hoje em dia, não basta ser homem cis e branco, mas ter na graça a inicial B, de Bosta.
Quarei meus lençóis e fiz uma mimosa com Ceréser. Tentei ler Guimarães por mais de 20 páginas, mas só é efetivo quando fisga esperança na vida. Não foi.
Dele, restou ler pássaros, e aqui escuto os Guaturamos. Não sei, na verdade, se são Guaturamos, mas nada muito mais importa quando você engasga com goles de mimosa e resiste em respirar. Poderiam ser pombos, eu veria Guaturamos.
Eu gostaria de cigarros. Ah, como eu gostaria. Mas prometi a mim mesma que pararia de fumar. A mesma que prometeu que não comeria nada que fosse de origem animal e que faria mais atividades físicas. Se consistência fosse uma moeda, eu não teria um puto no bolso.
Desde niña me estoy acostumbrada con la solitud. Nada me parece más familiar que yo misma, con mis lágrimas. A mí me gusta terriblemente ver Almodóvar, porque veo todo el drama, todos los colores, todos los gritos y amores en una mirada. Me gusta el drama.
Todos os meus prazeres transformei em trabalho (menos o álcool e o sexo, esse último não seria tão mal). Não sei mais o que gosto de fazer, porque tudo me remete a obrigações. Quero ganhar dinheiro e fazer de tudo um jeito de chegar em algum lugar. Não é assim.
E quando começo algo que não sei e sei que não sei, logo desisto. Música, pinturas, jogos. Muito esforço para não ter dinheiro. Me esforço só pra ter dinheiro.
Faz tempo que eu não faço a mínima ideia de quem sou, mas ultimamente tenho me incomodado muito mais com essa dúvida. Antes, era muito jovem para achar que valia a pena me preocupar com isso. Agora, só gostaria de ter certeza do que vou fazer amanhã.
Amanhã, domingo de carnaval.